A
história da Puma, teve início na época
em que a indústria automobilística nacional
se desenvolvia, e as competições faziam
um grande sucesso. A "Mil Milhas" era a
competição de maior destaque no país.
No início dos anos 60, os carros que melhor
se saíam nas pistas de corrida eram os DKW
e JK, seguidos pelo Simca Chambord e Dauphine, o Aero-Willys
não se adaptava ao uso em competições.
A Willys então decide produzir aqui o Interlagos
( nome este sugerido por Mauro Salles) , cópia
do Alpine A-108 francês.
Extremamente leve, baixo e aerodinâmico, e feito
em fibra de vidro, o Interlagos fez um grande sucesso
nas pistas, causando desespero no departamento esportivo
da Vemag, que se viu obrigado a criar um novo carro,
já que o Belcar era muito pesado.
Nesse
momento Jorge Letry - chefe do departamento esportivo
da Vemag - entra em contato com Genaro "Rino"
Malzoni, fabricante de cachaça em Matão
-SP, cujo hobby era produzir, em sua Fazenda Chimbó,
carrocerias esportivas para serem montadas em chassis
de automóveis de série. Isto resultou
em uma interessante troca de informações
a respeito de um projeto feito por Rino, parecido
com a Ferrari 275 GTB, mas com chassi e mecânica
três cilindros DKW.
Então,
em outubro de 1964 o Malzoni GT, nome como passou
a ser chamado, estréia em Interlagos, ocupando
o primeiro lugar na classe dos protótipos.
Mas, usando ainda uma carroceria de chapa, o motor
especial de 100 cv, mostrou-se lento, o que levou
a reconstruir a carroceria - com alguns retoques no
desenho feitos por Anísio de Campos - utilizando
fibra de vidro.
O resultado foi uma berlineta de peso bastante inferior,
levando a Vemag comprar três protótipos
e vencer cinco corridas em 1965. Perante um quadro
bastante promissor, Rino Malzoni, Jorge Letry, Luis
Roberto Alves da Costa e Milton Masteguin se associam
e fundam a Sociedade de Automóveis Lumimari
(nome derivado das duas letras iniciais de cada sócio).
As primeiras unidades receberam o nome de DKW-Malzoni,
tinham motor de três cilindros, dois tempos
e 981 cm3, desenvolvendo a potência de 60 cv
a 4500 rpm e sua velocidade máxima era de 145
km/h; o carro se apresentava com boa estabilidade.
A
Lumimari apresentou em 1966, no "V Salão
do Automóvel" o DKW-Malzoni em uma versão
especial, com acabamento de luxo.Consta que foram
produzidas 35 unidades do Malzoni GT de 1964 a 1966.
A pequena Lumimari é reconhecida em 14 de setembro
de 1966 como integrante do parque automobilístico
brasileiro, e na mesma ocasião muda sua razão
social para Puma Veículos e Motores, o DKW
Malzoni recebe o nome de Puma DKW.
A marca Puma e o emblema inspirado no felino, foi
criada por Jorge Letry, que após o encerramento
das atividades esportivas da Vemag assume o cargo
de diretor industrial e de desenvolvimento na Puma.
Em 1967 a Puma produz 135 unidades, um crescimento
de 200% em relação ao ano anterior,
isto se deve em parte ao bom desempenho nas pistas,
onde os carros da marca chegaram a conquistar o segundo,
terceiro e quarto lugares na "Mil Milhas"
de 1966.
Quatro
Rodas preocupando-se em apoiar o desenvolvimento do
design brasileiro promove em 1967, o Troféu
Quatro Rodas, um concurso de design onde participaram
sete modelos nacionais. O vencedor foi o Puma. Como
prêmio Jorge Letry pode conhecer a fábrica
da Ferrari em Maranelo, e o estúdio da Bertone,
porém ele aproveita para enviar um modelo da
marca e fazer uma viagem por toda a Europa a bordo
de um Puma GT, onde com suas visitas as fábricas
de esportivos de destaque na época como, os
Maseratti e Ferrari, apresenta ao mundo o incrível
carrinho desenvolvido todo no Brasil, já com
vistas as exportações, com aprovação
unânime por lá. Esta viagem não
foi feita em 1967, e sim alguns anos mais tarde.
O novo modelo
Com
a absorvição da Vemag pela VW do Brasil,
a Puma se vê sem uma mecânica para seu
modelo, contudo continua montando seu modelo com os
últimos conjuntos mecânicos do DKW, enquanto
que em Matão, "Rino" desenvolve um
novo projeto usando a plataforma do Karmann-Ghia,
mas com o entre eixos reduzido em cerca de 25 centímetros.
No início houve resistência por parte
da Volkswagen em fornecer o conjunto mecânico,
mas o dedo do governo "convenceu" a VW a
fornecer o chassis para a Puma. Assim o novo Puma
GT foi lançado em 1968, também era conhecido
como Puma II e ou Puma Volkswagen; as linhas agora
mais modernas, foram baseadas em modelos mais atuais,
como a Lamborghini Miura, em especial no desenho das
portas.
A mecânica VW de 1500 cm3 com refrigeração
a ar, para garantir um desempenho mais condizente,
recebia kit especial com dupla carburação
Solex-Brosol 32, sua potência era de 60 cv e
a velocidade máxima de 150 km/h, o novo modelo
possuía agora motor e tração
traseiras. Tinha bolha nos faróis, e um inovador
vinco no capô, que terminava junto ao logotipo
cromado. As rodas eram de ferro, o carro possuía
linhas modernas e simples, e a aparência era
agressiva, sendo notado por onde passava. A empresa
passa a oferecer comandos de válvulas e outras
relações de câmbio, melhorando
o desempenho devido o pequeno peso do veículo.Também
foi oferecido, uma versão mais leve e despojada,
destinada as competições, chamada de
Espartano.
O
sucesso do Troféu Quatro Rodas leva a revista
a um passo mais ousado, quando em 1969 ela encomenda
três modelos esportivos exclusivos, os GT 4R,
para sorteá-los entre os leitores. O design,
baseado no Puma, foi realizado por Anísio de
Campos, e as três unidades montadas em fibra
de vidro sobre a mecânica e motor Volkswagen
1600.
Em 1970 o Puma GT foi exposto pela primeira vez em
um evento internacional, na Feira Ibero-Americana
de Sevilha, na Espanha. Com a introdução
do motor 1600 na linha Karmann-Ghia no mesmo ano,
a Puma passa a fabricar o Puma GT com motor 1600,
porém com dupla carburação; estes
modelos eram exportados. Em 1971 o motor 1600 passa
a ser básico e o modelo recebe a nova sigla
GTE, esse novo motor de 70 cv a 47000 rpm permitia
velocidades de até 170 km/h, e tinha o excelente
consumo médio de 13 km/l, havia ainda como
opcional motores de 1.700, 1.800, 1.900, 2.000 cm3.
Surge
em 1971 a versão conversível do GTE,
denominada Puma GTE Spyder, que trazia além
da capota de lona, um opcional muito elegante; o teto
rígido. Este modelo possuía um aerofólio
preto em sua traseira, de gosto duvidoso, e que logo
foi retirado pois não combinava com as linhas
harmoniosas do carro.
Com
sua imagem consolidada no mercado, a produção
da Puma crescia de ano para ano. Nessa época
ela já atendia as importações,
chegando a vender know-how e direitos de construção
de seu veículo à Bromer Motor Assemblies,
que passa a fabricar o Puma sob licença e comercializá-lo
na África do Sul.
Em
1971 foi montado pela Puma um protótipo esportivo,
com motor do Opala seis cilindros e 3,8 litros; o
GTO. Porém foi apresentado ao público
no Salão do Automóvel de 1972, com a
nova sigla Puma GTB e mecânica Chevrolet do
Opala de 4.100 cm3 litros e 140 cv atingindo os 200
km/h, a carroceria foi totalmente redesenhada. Como
não se conhece o paradeiro do protótipo
GTO, acredita-se que ele tenha sido refeito e apresentado
no citado salão como GTB.
Em
1973 a Puma vai ao Salão de Londres e apresenta
o modelo GTE.
Somente em 1974, o GTB é lançado no
mercado, com suas linhas obteve grande aceitação
pelo público, ele se torna o automóvel
mais caro do país. Devido ao grande numero
de pedidos feitos, ocorre um fenômeno interessante;
os GTB já produzidos atingem preços
no mercado de usados, bem maiores que os praticados
pela fábrica, pois para estes carros, não
havia lista de espera, de mais de um ano. Este fato
já ocorrera anteriormente com os modelos GTE
e Spyder, onde o feliz problema da fábrica,
era o de produzir e não vender.
Nos
mesmo ano, a Puma atinge o maior índice de
vendas, e garante sua entrada na Anfavea e no Sindicato
da Indústria Automobilística. Ela apresenta
o projeto, de construção de um pequeno
caminhão, de 4 toneladas, com cabine em fibra
de vidro. Era o momento propício para lançar
o Míni-Puma, pois a crise do petróleo
era uma realidade e o pequeno carro de 650 cm3, meio
motor VW 1300, de dois cilindros chegava a fazer 20
km/l e seria muito viável ao momento. O projeto
exigiria grandes empréstimos em dólar,
e acaba dando em nada.
Em
1976, a Puma adota o chassi de Brasília, que
continua a ser encurtado. Os GTE e GTS recebem modificações
na carroceria que agora se torna mais larga, recebem
lanternas de Kombi, e traseira mais alta. O GTE recebe
pequenas janelas, em substituição as
entradas de ar laterais, as portas perdem o estilo
da Lamborghine Miura.
A empresa se dedica a fabricação de
kits de preparação de motores, em especial
os da Volkswagen, produzindo câmbios com diversas
relações ( conhecidas como caixas P1,
P2,...), carburadores diversos, coletores, filtros
de ar, barras estabilizadoras mais grossas e comandos
de válvulas também P1, P2, P3,..., cabines
de caminhão e diversos tipos de peças
para fins industriais em fibra de vidro. Nesta época
a Puma produzia cerca de três mil carros por
ano, e exportava seus esportivos para os Estados Unidos,
Canadá ( via concessionárias Lada),
Europa e América Latina num total de mais de
50 países.
Possuía duas instalações, uma
dedicada aos esportivos e outra a fabricação
do caminhão Puma 4T Diesel.
Em 1978 é apresentado no Salão do Automóvel,
o Puma GTB Série II ( S2 ), com novo desenho,
passa a ter uma frente mais estreita, e quatro faróis
redondos envolvidos por uma moldura, novos pára-choques
pretos de borracha, na traseira é adotado lanternas
de Brasília, o quebra-vento também é
retirado, o capô se torna mais liso e as rodas
passam a ser do tipo "estrela", se destacavam
os limpadores escondidos por uma capa. O motor era
o 250-S do Opala.
Os Problemas
Nos início dos anos 80, a empresa começa
a passar por problemas financeiros e burocráticos,
agravados por incêndios e inundações.
Ela projeta um novo modelo, visando alavancar as vendas,
o P018 ( P- de projeto e era o 18º projeto Puma)
montados com suspensão igual ao da Variant
II, motor 1700 a ar, comando P2, dupla carburação
Solex 40 e câmbio mais longo. Possuía
rodas com desenho exclusivo, semelhante ao da GTB
S2 e seriam montados com ar condicionado, ar quente
e vidros elétricos. O P-018 é apresentado
no Salão do Automóvel de 1981, e na
mesma ocasião, foi apresentado o GTB S3, com
motor do Opala de quatro cilindros, cogita-se lançar
o GTB S4 com motor turbinado, mas não passa
de projeto. Ressurge a idéia do Mini-Puma com
um acordo com a japonesa Daihatsu, os Cuore seriam
fabricados aqui sob licença, mas o projeto
é novamente engavetado. Isto só fez
atrasar o lançamento do P018, que só
chegou ao mercado em 1983.
Em
1981, buscando aumentar as vendas, a Puma redesenha
os modelos GTE e GTS, que recebem novos pára-choques
envolventes e novas lanternas, e também uma
nova denominação: o GTS, passa a ser
denominado GTC e o cupê GTE vira GTI. Os esportivos
com mecânica a ar em âmbito geral, já
não seduziam mais, e a empresa em difícil
situação financeira, com pré-falência,
não comparece ao Salão do Automóvel
de 1984. Foram produzidas apenas 40 unidades do P018.
A produção de 1984 foi de 100 carros
e no início de 1985, a Puma pediu concordata,
fechando as instalações na Av. Presidente
Wilson.
A
Araucária Veículos, do Paraná
surge dando continuidade a produção
dos Pumas, produzindo alguns modelos P018 conversíveis
e os "Puma Kit",porém não
consegue acabar com os problemas da empresa, e em
1987 ela é novamente vendida para Nívio
de Lima, que compra a marca e o ferramental, criando
a Alfa Metais também do Paraná. Nívio
investe consideráveis recursos no relançamento
dos modelos e limpeza do nome da Puma. No entanto
ele usa apenas as carrocerias do P018, com mecânica
a ar, e as rebatiza de AM1, o cupê, e AM2, o
conversível. Enquanto que o GTB recebe a denominação
Puma AMV 4.1.
No
Salão do Automóvel de 1988, Nívio
apresenta novas versões com motor VW AP-1800,
refrigerados a água. Surge assim o Puma AM3,
cupê, e o AM4, conversível. Foi um trabalho
muito bem elaborado por ele. Nívio investe
também na produção do caminhão
Puma 4T. A imagem já desgastada e a forte concorrência
na época, fazem a produção da
Alfa Metais ser bastante reduzida. Em 1992, a produção
de esportivos é encerrada, ficando apenas a
de caminhões mantida. Com a morte de Nívio
de Lima em 1993, em seu AM3, a empresa é definitivamente
encerrada pela viúva.
Portanto nos resta agora restaurar as unidades remanescentes,
para assim manter viva a imagem, da pequena notável
fábrica de esportivos brasileira: a Puma Veículos
e Motores.